O BRASIL VIROU UM RÉXICO

O BRASIL VIROU UM RÉXICO?

Por Igor Olandim

A expressão “Réxico” tem ganhado espaço nos debates sobre o futuro econômico e social do Brasil e funciona como uma metáfora provocativa para alertar sobre riscos estruturais que o país pode estar enfrentando. O termo combina Rússia e México para sugerir um cenário em que, ao mesmo tempo, a riqueza e o poder se concentram no topo, enquanto o crime organizado se expande pela base da sociedade.

A parte associada à Rússia remete ao período pós-União Soviética, quando ativos estatais foram rapidamente transferidos para grupos privados ligados ao poder político, criando os chamados oligarcas. No contexto brasileiro, essa analogia aponta para a possibilidade de uma elite econômica pequena e bem conectada exercer influência desproporcional sobre a política e a economia, favorecendo um ambiente em que o sucesso depende mais de relações com o Estado do que de inovação ou competição real. Esse processo também envolve o enfraquecimento de instituições de controle, permitindo que interesses privados moldem regras e preservem privilégios.

Já a parte inspirada no México se refere ao avanço do crime organizado e à sua capacidade de infiltração em diferentes esferas da sociedade. No Brasil, essa face da metáfora destaca o crescimento de facções criminosas e milícias que, além de atuarem nas periferias, conseguem ocupar espaços na política local, influenciar setores da segurança pública e até participar da economia formal. Esse fenômeno contribui para a perda de controle estatal sobre determinados territórios, onde grupos criminosos passam a impor suas próprias regras, e para a expansão de uma economia ilegal com força suficiente para corromper instituições e desestabilizar a democracia.

O termo “Réxico” foi amplamente difundido pelo economista Eduardo Giannetti da Fonseca, que o utiliza para alertar sobre o risco do Brasil se afastar de um modelo de capitalismo competitivo e transparente, aproximando-se de uma combinação tóxica de concentração de poder econômico com violência social crescente.

A ideia não é afirmar que o Brasil seja ou se tornará uma réplica da Rússia ou do México, mas sim destacar tendências que, se não forem enfrentadas, podem levar o país a um modelo híbrido indesejável, marcado pela concentração de poder no topo e pela corrosão institucional na base.

Mas, entendo, que em termos práticos, é possível argumentar que o Brasil já apresenta sinais concretos dessa dupla convergência. A crescente influência de grupos econômicos sobre decisões regulatórias, a dependência de setores inteiros de incentivos estatais e a expansão territorial e econômica do crime organizado e das milícias configuram um cenário no qual o país parece, de fato, combinar elementos disfuncionais dos dois modelos que inspiram a metáfora.

A consequência mais profunda desse processo é que, mantidas as condições atuais, o tradicional embate entre direita e esquerda tende a se tornar cada vez menos significativo e hoje, as pressões estruturais, principalmente as financeiras, já ditam as decisões de forma bem clara, enquanto a briga ideológica vai ficando de lado.

A política ainda tenta recorrer a esse velho antagonismo nos discursos, mas isso já não dá conta de explicar nem de orientar o que realmente acontece. As dinâmicas decisórias operam acima ou até à margem, dessas categorias tradicionais. Em outras palavras, a lógica do capital é tão predominante que a política passou a apenas acompanhar esse movimento, com pouca autonomia efetiva. Hoje, pouco importa se o governo se apresenta como de esquerda, direita ou centro. Isso não é o que determina as decisões do país.

Isto é polêmico, eu sei, mas é o que eu penso e é apartidário.

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