Análise Detalhada da Marcopolo: Ciclo de Crescimento e Gestão Eficiente

Por Igor Olandim.

A Força da Gestão Financeira

A Marcopolo demonstra uma estrutura financeira sólida e um gerenciamento de capital altamente eficiente.

A empresa possui um Capital de Giro (CDG) robusto, estimado em R$ 2,8 bilhões, que não apenas cobre sua Necessidade de Capital de Giro (NCG) de R$ 2 bilhões, mas também gera um Saldo de Tesouraria significativo de R$ 787 milhões (dados até 2025). 

Historicamente, a Marcopolo sempre manteve uma alta liquidez, alcançando um pico de cerca de R$ 930 milhões em caixa em 2024. Suas reservas de caixa são consistentemente maiores que seus empréstimos de curto prazo, o que a torna estruturalmente líquida. Além disso, a Necessidade de Capital de Giro (NCG) é muito bem administrada, pois o expressivo crescimento da receita de 81% (entre 2020 e 2024) foi acompanhado de perto pelo crescimento da NCG (84%).

Em relação ao endividamento, a situação é confortável. Com uma dívida líquida estimada em R$ 1,265 bilhão (3º trimestre de 2025), o indicador Dívida Líquida / EBIT é muito baixo (0,79). Isso significa que a Marcopolo precisaria de apenas nove meses de seu resultado operacional (EBIT) para quitar totalmente sua dívida líquida. 

No entanto, apenas 63% das dívidas são de longo prazo, sendo assim, sugerimos um reperfilamento para alongar as dívidas e reduzir o passivo de curto prazo.

Do ponto de vista da Performance Operacional, a empresa tem apresentado um crescimento notável. O faturamento cresceu cerca de 80% entre 2020 e 2024, atingindo R$ 8,5 bilhões. O Custo da Mercadoria Vendida (CMV) está bem administrado, na faixa de 75%. Embora a Margem EBIT seja considerada baixa (cerca de 15%), o Resultado Financeiro positivo compensa, impedindo que ele prejudique o lucro. Consequentemente, o Lucro Líquido da empresa se mantém saudável, na faixa de 13% a 14%.

A Oportunidade do Mercado Reprimido


Entre 2011 e 2013, o setor passou por um forte ciclo de renovação, mas essa tendência foi bruscamente interrompida pela pandemia em 2020. Esse hiato gerou uma imensa demanda reprimida que, felizmente, já começa a se manifestar no mercado.

O Brasil possui um vasto potencial de mercado, com uma frota gigantesca de aproximadamente 400 mil ônibus. A necessidade de renovação é inegável, visto que a idade média da frota nacional é de 12 anos, o dobro da frota dos Estados Unidos (6 anos). Este cenário aponta para uma demanda urgente por veículos mais novos, eficientes e sustentáveis.

A Marcopolo se consolida como líder inquestionável do setor, detendo cerca de 50% do market share no Brasil.

Considerando que a produção anual total de ônibus para o mercado interno é de 22 a 23 mil unidades e que a capacidade atual da Marcopolo, para o Brasil, é de apenas 11 mil, a empresa possui uma vasta “avenida de crescimento” com possibilidades de expansão quase ilimitadas para atender a essa demanda reprimida e estrutural.

Estratégia e Evolução Tecnológica

A Marcopolo tem como visão ser protagonista em soluções de mobilidade. Para isso, a empresa passou por uma reestruturação para otimizar custos e focar em crescimento orgânico.

A estratégia envolveu o fechamento de unidades menos rentáveis no Brasil (como as de Duque de Caxias em 2020 e Três Rios em 2016) e no exterior (Índia, Egito, Rússia, Portugal), concentrando as operações em plantas mais eficientes. Simultaneamente, aumentou sua participação em ativos rentáveis na Austrália (para 100%) e Argentina (para 70%).

A diversificação é chave: a Marcopolo exporta para mais de 100 países, com a receita dividida prudentemente entre 60% no Mercado Interno e 40% no Externo, aproveitando os diferentes ciclos econômicos globais.

Por fim, a Marcopolo está liderando a migração para veículos elétricos. A empresa evoluiu de mera encarroçadora para desenvolvedora de tecnologia, incluindo softwares de gestão para motores e baterias. Com mais de 1.000 ônibus elétricos já em circulação globalmente, o grande desafio para o crescimento desse segmento no Brasil é o alto custo inicial (3x maior), que depende de incentivos governamentais e financiamento.

Conclusão da Análise: 

A Marcopolo é uma “excelente empresa em um excelente mercado”. No entanto, devido aos ruídos de desaceleração de faturamento no curto prazo, sugerimos cautela, acompanhando a ação e o mercado para investir somente quando o preço estiver mais alinhado ao potencial de valor.

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